CONFERÊNCIAS

A realização de uma Conferência com protagonistas nacionais de reconhecido mérito nas áreas da Arquitectura, Geografia e Economia é sem dúvida um dos aspectos mais interessantes deste primeiro encontro. Nesta fase inicial do Projecto Rio, contudo, o mote das intervenções será mais genérico, compreendendo uma avaliação crítica dos modelos de desenvolvimento vigentes e que começam paulatinamente a ser postos em causa, a par da revalorização da especificidade dos recursos locais; se a paisagem é porém algo em constante mutação, importa questionar a validade de todas as propostas, modelos e discursos sobre os novos caminhos que a paisagem deve reunir.

Fernando Oliveira Baptista | O impossível desenvolvimento rural

Álvaro Domingues | Paisagens transgénicas

Paisagem é registo da sociedade que muda, e se a mudança é tão rápida e complexa como agora é, será também indiscernível e polémico o registo que assim se vai mudando. "Transgénico" é aquilo que em biologia denomina o que é compósito, o que deixou de ser a taxionomia estável de um corpo ou organismo e entrou numa nova condição em que se cruzam marcas que antes habitavam entidades biológicas distintas e estáveis.

A paisagem como "casa comum" ou "chão de gente", como partilha e referente identitário, só se compreende verdadeiramente no jogo político que a revela, nos enunciados do que tomam a palavra (dos excluídos, também), nos assuntos e na forma como são legitimados. Para além dos "factos" infinitos que se podem paisagificar, paisagem é um assunto onde abundam contradições e consensos vagos - como nos OGM (organismos geneticamente modificados)..., uma imensa polémica entre utopias e pesadelos, luzes e sombras.

António Covas | A grande transição, pluralidade e diversidade no mundo rural, a experiência do Projecto Querença

A Grande Transição é sobre uma nova antropologia cultural do mundo rural, sobre a formação de comunidades de interesses em busca de laços comunitários para o sentido da vida, em contacto directo com o chão físico e biológico.

A Grande Transição é sobre a grande fusão entre os direitos naturais e os direitos sociais e humanos, do respeito pela diversidade dos futuros, hoje, e pela diversidade dos presentes, amanhã.

Alberto Corvo | Gilão, Séqua, Asseca - Identidades de um rio

Já se disse de Tavira a cidade que o rio não dividiu e também a cidade onde os rios mudam de nome. Numa colina da margem direita do Gilão teve a cidade o seu sítio genético; pelo rio subiram povoadores vindos do Mediterrâneo; na mesma margem se fez aguada para longas viagens marítimas; pelo mesmo caminho de água desceram para o mundo produtos da terra e do mar, mercadores e gente de armas e subiram o pão e culturas distantes e exóticas. A jusante, muitos séculos antes da própria existência da urbe, também o Séqua viu reflectido nas suas águas os ocupantes de uma colina na margem direita: iberos do sudoeste e, mais tarde, gente do império da águia, antes do assentamento na margem lagunar, uma légua a sudoeste do sítio genético.

Muito tempo decorrido das primeiras fixações humanas e após diversas formas de ocupação do espaço, muito se transformou da relação com o rio: já não se mói o cereal nos moinhos de água, já não aportam grandes embarcações frente à praça principal para carrego de frutos secos para exportação, já nada resta dos grandes estaleiros navais, já o mato reconquistou terras aluviais que foram de cultivo.

Mas, junto à foz perdura ainda o labor salineiro, tal como no fértil vale da Asseca perdura o labor agrícola e alguma pastorícia. A despeito de transformações da paisagem, natural ou construída, e das múltiplas percepções individuais acerca da sua fruição, o curso de água – rio ou ribeira –, Gilão, Séqua ou Asseca, permanece como elemento paisagístico identitário para a generalidade da população.

Continua a ser apetecível dar um passeio até aos Moinhos da Rocha; continuam a causar espanto a cheia de Inverno ou a Garça-real na maré baixa; continuamos a dizer: vou ao outro lado.



PASSEIOS

Pretendemos ainda complementar as contribuições teóricas oferecidas pelos conferencistas com Passeios Temáticos ao longo do rio Asseca/Séqua/Gilão e da ria Formosa. Acreditamos que é no próprio chão, em presença das pessoas, que os conteúdos científicos surgem mais reais e actuais, perdendo a sua carga abstracta e mostrando a sua indubitável importância para a interpretação da paisagem através da identificação das forças físicas e dos modelos económicos que a têm governado, e que apenas sendo conhecidos poderão também ser avaliados.

Henrique Cabeleira, CCDR / Nuno Grade, PNRF

[Passeio de barco Tavira - Ria - Tavira]

Alberto Corvo | Por Este Rio Acima – Jornada de caminhantes

[Passeio pelo Vale da Assêca /Pego do Inferno]



GRUPOS DE TRABALHO

No dia 26 de Maio será através de Grupos de Trabalho temáticos, com pontos de conflito particulares ao concelho que o primeiro encontro ficará encerrado. Será através destas mesas redondas que as propostas, as visões, as oportunidades e as contrariedades surgirão pela voz de cada participante, e em que cada “um” poderá conhecer o “outro” e a validade da sua visão para Tavira. As conclusões de cada grupo de trabalho serão apresentadas pelos membros da equipa da Chão de Gente numa sessão pública da Biblioteca Álvaro de Campos.

Paisagens produtivas, barrocal e serra

Paisagens produtivas, o rio e a ria

Da cidade à serra, território potencial